Mamãe estudou latim no ginásio como matéria obrigatória. Hoje ela está
com quase oitenta anos, e faz um tempão que o latim foi expurgado das escolas.
Uma das alegações para o banimento foi a de se tratar de uma "língua
morta". Ou seja, documentada, mas sem falantes nativos.
No entanto várias latinices vivem na ponta da nossa língua. Exemplo,
o elegante in memoriam que recorremos para homenagear alguém
que já se mandou, ou foi mandado, para o andar de cima. Alguém de quem
gostávamos é claro. Para os desafetos deveria existir um "em
esquecimento".
Há também a petulante duplinha do a priori e a posteriori. Deixa o falante
bem na fita: "A priori acredito
em você, a posteriori vamos ver." Ótimo para quem não
quer se comprometer, para quem prefere observar o mundo de cima do muro.
Outras. Habitat é palavra conhecida por crianças a
partir dos três anos. Pela gurizada que já nasce ecologicamente correta. O
batidíssimo status, então, está na
mente da maioria de nós. A falta dele faz muito marmanjo perder a vaidade.
Agora statu quo, "estado dominante", é coisa de sociólogo. Superávit,
coisa de economista. Publicitários adoram vox populi, vox dei, pois apostam que "a voz do povo
é a voz de Deus". Psicólogas apontam o foco para o nosso alter
ego, "o outro eu".
Mas categoria tarada mesmo por latim é a dos advogados - de defesa e
de acusação. No lugar do banal "com licença", preferem o data
venia! Mandam ver sub
judice, "em juízo". E ad nauseam, "até a
náusea", requerem habeas corpus, em versão
livre "que saias do xilindró" para seus clientes.
Novelistas de tv e roteiristas de séries americanas não confessam, mas usam
muito o Deus ex machina. Essa
expressão significa uma "solução artificial". Trata-se de situação ou
personagem que cai de paraquedas para resolver a trama.
Para mim, o mais saboroso latinório é Carpe diem! Sua tradução é "aproveite o
dia". Isto é, curta o momento presente e descubra o que ele oferece, pois
o passado se foi e o futuro mora numa bola de cristal. Ipsis
litteris.
Fonte:
http://br.noticias.yahoo.com/blogs/mente-aberta/gastando-meu-latim-105854885.html
- Acessado em 12 de janeiro de 2013.
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