segunda-feira, 27 de abril de 2015

Loucura: Uma História de Amor (Momento Leitura)

Contam que, uma vez, reuniram-se os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da terra.
O Aborrecimento havia reclamado pela terceira vez que não suportava mais ficar à toa e a Loucura, como sempre louca, propôs-lhe:
- Vamos brincar de esconde-esconde? A Intriga levantou a sobrancelha intrigada e a Curiosidade, sem poder conter-se, perguntou-lhe:
- Esconde-esconde? Como é isso?
É um jogo, explicou a Loucura, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.
O Entusiasmo dançou seguido pela Euforia.
A Alegria deu tantos saltos que acabou convencendo a Dúvida e até mesmo a Apatia, que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos quiseram participar.
A Verdade preferiu não se esconder. Para que, se no final todos a encontravam?
A Soberba opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela) e a Covardia preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três, quatro... - começou a contar a Loucura.
A primeira a esconder-se foi a Pressa, que como sempre caiu tropeçando na primeira pedra do caminho.
A Fé subiu ao céu e a Inveja se escondeu atrás da sombra do Triunfo, que com seu próprio esforço, tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
A Generosidade quase não consegue esconder-se, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos - se era um lago cristalino, ideal para a Beleza; se era a copa de uma árvore, perfeito para a Timidez; se era o voo de uma borboleta, o melhor para a Volúpia; se era uma rajada de vento, magnífico para a Liberdade, e assim, acabou escondendo-se em um raio de sol.
O Egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início, ventilado, cômodo, mas apenas para ele.
A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris), e o Desejo, no centro dos vulcões.
O Esquecimento, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é importante.
Quando a Loucura estava lá pelo 999.999, o Amor ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre as suas flores.
- Um milhão. - Contou a Loucura, e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a Pressa, apenas a três passos de uma pedra.
Depois, escutou-se a Fé “papiando” com Deus no céu sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar o Desejo nos vulcões.
Em um descuido encontrou a Inveja, e claro, pôde deduzir onde estava o Triunfo.
O Egoísmo, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a Loucura sentiu sede e, ao aproximar-se de um lago, descobriu a Beleza.
A Dúvida foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem se decidir de que lado esconder-se.
E assim foi encontrando todos. O Talento, entre a erva fresca; a Angústia, em uma cova escura; a Mentira, atrás do arco-íris (não, Mentira, ela estava no fundo do oceano); e até o Esquecimento, pra quem já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde. Apenas o Amor não aparecia em nenhum local. A Loucura a procurou atrás de cada árvore, embaixo de cada rocha do planeta, e em cima das montanhas.
Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral.
Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o Amor nos olhos. A Loucura não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, orou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia.
Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra, o Amor é cego e a Loucura sempre o acompanha.

(Autor desconhecido)

Nenhum comentário:

Postar um comentário