O ano é 2209 d.C. – ou seja,
daqui a duzentos anos – e uma conversa entre avô e neto tem início a partir
da seguinte interpelação:
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– Vovô, por que o mundo está
acabando?
A calma da pergunta revela a
inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores? Mas o que é isso? O
que fazia um professor?
O velho responde, então, que
professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam
sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam
conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar,
localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas.
Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas
eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram
todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros
professores, e eram amados pelos alunos.
– E como foi que eles
desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano
secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade.
O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos
ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos,
apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo
alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo
e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.
Depois, muitas famílias
estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos
como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando
e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha
muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você
ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas
escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as
quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando
recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles
não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. Os professores eram
vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por
pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo.
Além disso, qualquer proposta de
ensino séria e inovadora sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação
do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber
se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”,
diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino
foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a
aprendizagem de conceitos, as discussões de ideias, tudo, enfim, virou
decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas
ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para
estudar a sério.
Em seguida, os professores foram
desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém
mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do
ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas
também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem-sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores
de futebol, artistas de novelas da televisão, sindicalistas – enfim, pessoas
sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade.
Ah, mas teve um fator chave nessa
história toda. Teve uma época longa chamada ditadura, quando os milicos
colocaram os professores na alça de mira e quase acabaram com eles, que foram
perseguidos, aposentados, expulsos do país, em nome do combate aos subversivos
e à instalação de uma república sindical no país. Eles fracassaram, porque a
tal da república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder,
implantaram uma tal de “educação libertadora” que ninguém nunca soube o que é,
fizeram a aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos... Foi o tiro
de misericórdia nos professores. Não sei o que foi pior – os milicos ou os tais
dos subversivos.
– Não conheço essa palavra. O que
é um milico, vovô?
– Era, meu filho... Também não
existe mais...
(Autor Desconhecido)
Se alguém souber o nome do autor deste texto, avise-me; para que eu possa dar os devidos créditos.
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